Não há como falar sobre jogos de estratégia por turnos sem citar “Civilization”. Criada pelo genial Sid Meier no ano de 1991, a série alcançou algo muito próximo da perfeição em “Civilization II”, título pelo qual os jogadores de PC mais, digamos, “experientes”, nutrem um carinho imenso, tão grande quanta a abrangência do próprio game em questão.
Ao longo dos anos, “Civilization” ganhou algumas versões de qualidade duvidosa, sem a batuta de Sid Meier – “Call to Power” (1999), por exemplo, foi de responsabilidade da Activision. Comemorando dez anos de aniversário da série, “Civilization III” recolocou-a nos trilhos, com a essencial ajuda de seu idealizador. Agora, seis milhões de cópias vendidas depois, a quarta versão volta revigorada e com algumas mudanças ousadas, como a incorporação do visual tridimensional.
Aviso importante: antes de se arriscar em “Civilization IV”, certifique-se de ter muitas horas livres, pois o jogo está mais viciante e longo do que nunca. A premissa, no entanto, continua sendo a supremacia global na pele do líder de uma determinada nação, evoluindo-a ao longo dos anos, desde a Idade da Pedra até a conquista do espaço sideral.
Ditando os rumos da História
Ao todo, são 18 civilizações: americana, asteca, grega, japonesa, persa, árabe, chinesa, egípcia, inglesa, francesa, alemã, inca, indiana, malaia, mongol, romana, russa e espanhola. Cada uma, além de suas características singulares, tem um ou dois líderes disponíveis e, normalmente, são figuras históricas bastante conhecidas – a nação americana, por exemplo, traz George Washington e Franklin Roosevelt, enquanto a asteca possui Montezuma.
Os líderes (ou governantes), por sua vez, apresentam duas características de personalidade – podem ser filosóficos, espirituais, criativos, organizados, expansivos e/ou agressivos -, que lhes proporcionam bônus dos mais variados tipos. Enquanto um governante agressivo usufrui diversos benefícios bélicos, como comprar quartéis com 50% de desconto, um líder espiritual adquire monastérios e templos por ótimos preços.
Cada líder, além de ter um retrato próprio, é representado unicamente em seus trejeitos e até mesmo no estilo das frases de diálogo (todas escritas). Júlio César, o ditador romano, mostra os polegares para cima e para baixo, por exemplo, durante as conversas.
Logo de cara, duas mudanças são mais notáveis em “Civilization IV”: em primeiro lugar, a interface, mais intuitiva e amigável, que facilita muito a vida dos principiantes no gênero, com opções para automatizar a maioria das ações, além de poucos botões ou menus espalhados pela tela. De qualquer forma, os fanáticos pela série não precisam se preocupar, pois o jogo ainda preserva o rico e vasto conteúdo histórico de costume, com muito material para se ler, bastando apenas ter vontade e disposição para isso.
Afinal, convenhamos: “Civilization” sempre foi uma série com elevado fator de diversão, mas a que preço? Não era raro certas partidas demorarem horas e horas até “engrenar”, enquanto o jogador pesquisava, pesquisava e pesquisava mais um pouco. Desta vez, a interface revigorada, como a dos jogos de estratégia em tempo real, dá mais rapidez e dinamismo, e não é mais preciso se perder entre incontáveis cliques do mouse para sentir-se recompensado.
Finalmente, o 3D
A outra mudança, naturalmente, está na parte gráfica: o jogo finalmente rendeu-se ao 3D, embora não totalmente, mas ainda assim trata-se de um belo (literalmente) avanço para a série. Finalmente o mundo de “Civilization” ganhou um pouco mais de vida, com animações variadas para as unidades, além de edifícios e maravilhas bastante detalhados.
É claro que não estamos falando de um visual revolucionário, mas está de bom tamanho para a série, cuja experiência nunca teve mesmo uma intensa ligação com os gráficos. Mesmo durante as batalhas, as animações mereciam um pouco mais de capricho, mas a liberdade com o zoom ajuda o jogador a “mergulhar” um pouco mais no mundo de “Civilization”, que sempre pareceu muito distante em episódios anteriores.
Por sinal, também não espere muito do sistema de batalhas, que ainda não é tão avançado e coerente como gostaríamos, mas foi melhorado: a variável “força”, que engloba diversos aspectos de uma maneira em geral, é que tem influência sobre o desenrolar de um combate, o que não é lá um mecanismo tão sofisticado, embora dê mais equilíbrio aos combates e evite que unidades fracas ganhem de outras muito superiores, algo que já acontecera em versões passadas.
As unidades contam com um maior número de aprimoramentos, o que ajuda a “customizá-las” de acordo com a pretensão do jogador. Se ele deseja, por exemplo, atacar o inimigo, deve optar por atualizações que lhe dê mais poder em território hostil, mas se a idéia é utilizar a unidade para defender uma cidade, então o mais apropriado é reforçar seu potencial de proteção.
Ainda há outras variações, como a de ataque colateral (que determina o quanto as unidades próximas ao alvo serão afetadas pela investida), ajudando a requintar um pouco mais os combates.
Em “Civilization IV”, tão importantes quanto as batalhas é a diplomacia e, como de costume, aliar-se ou declarar guerra às demais civilizações faz parte do jogo. As fronteiras contam agora com o recurso “Open borders” que, acionado, permite que a civilização em questão tenha acesso aos territórios dominados por você, e vice-versa.
Obviamente, se a sua nação estiver em guerra com outra, o recurso não vale. Na verdade, abrir ou não as fronteiras é mais uma questão de limitar acesso ao seu território, evitando inclusive surpresas desagradáveis (leia-se “emboscadas” ou “traições”).
Reze para vencer
O CPU está mais esperto, formando blocos entre si, com diferentes níveis de lealdade que afetam as relações. A religião, outra característica revigorada em “Civilization IV” é de fundamental importância em termos diplomáticos, uma vez que adotar a crença de outra nação ajuda a estreitar relações (e, neste caso, o inverso vale também).
Na verdade, as sete religiões de “Civilization IV” (cristianismo, judaísmo, islamismo, budismo etc.) não influenciam somente na diplomacia, trazendo consigo tecnologias, construções e unidades missionárias específicas. Como a religião também ajuda muito na cultura, se esta for condição de vitória da partida, vale a pena levar a fé em consideração. De outro modo, o novo sistema de crenças, embora interessante, não tem lá uma importância decisiva.
À medida que a civilização é desenvolvida, produzem-se líderes em áreas específicas (“Grande People”), ligados à guerra, artes, comércio etc., que aumentam o potencial do jogador das mais variadas maneiras. Um artista, por exemplo, pode criar instantaneamente uma obra de arte que elevará os pontos de cultura da nação, ou então pesquisar uma certa tecnologia em um menor número de turnos.
Combinando duas ou mais dessas unidades, é possível iniciar uma “Era Dourada” (“Golden Age”), período no qual a capacidade das unidades e estruturas é significativamente aumentada. Considerando que dá para promover várias Eras Douradas, elas se mostram um instrumento importante, principalmente na mão dos jogadores mais experientes, para determinar ou mesmo mudar os rumos de uma partida.
O multiplayer, compatível com internet e rede local (ou até mesmo e-mail), e com suporte para até 12 jogadores, está mais atraente e dinâmico com as novas funcionalidades: as escalas de tempo podem ser personalizadas de acordo com o número de participantes, um jogador pode ingressar em uma partida em andamento assumindo uma nação controlada pelo CPU e os turnos podem ser simultâneos, agilizando um dos principais problemas do multiplayer nos jogos do gênero, que é esperar os demais jogarem. Há ainda modalidades cooperativas e por equipes.
Agradando gregos e troianos
Além de rápido e amigável, “Civilization IV” está mais democrático do que nunca. Antes, cada mudança de era exigia que se explorasse uma a uma as ramificações de tecnologia, o que por muitas vezes era uma perda de tempo incrível, pois se investia em muita coisa teoricamente inútil. Agora, os pré-requisitos continuam seqüenciais, mas é exigido pesquisar apenas uma ramificação para avançar ao nível seguinte.
O jogo vem com alguns cenários personalizados e três modificações com modalidades exclusivas. Somados ao editor de mapas e às ferramentas para criação de mods, a vida útil do título é praticamente inesgotável – ao menos até o próximo capítulo da série.
A trilha sonora de “Civilization IV” é retumbante desde o início, com a música da tela principal com um clima “africano” descontraído. O game inclui ainda faixas musicais clássicas como Bach, Mozart e Beethoven. A cada era atingida ou tecnologia pesquisada, surge uma narração feita por nada mais nada menos que Leonard Nimoy, de “Star Trek”.
“Civilization IV” é um show de equilíbrio,pois inova sem perder identidade, uma combinação capaz de agradar fãs tradicionais, bem como atrair os novos jogadores. Aliás, se você nunca experimentou “Civilization”, eis aí uma oportunidade e tanto.
Obs: Tradução→Game Vício
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