American McGee’s Alice tem como proposta lançar um novo olhar sobre o rico universo criado por Lewis Carroll. Ao invés da narrativa leve, da estética colorida e do público alvo basicamente infantil, temos um jogo pesado, sombrio, macabro, com cenários e enredo que não deixam nada a dever aos mais horripilantes jogos de terror.
O mais genial, é que o jogo não abre mão, em nenhum momento, do universo tradicional de Alice. Todos os elementos e personagens que fizeram história na obra de Carroll aparecem neste jogo. A diferença é que, se Alice originalmente parecia um sonho, aqui a estética vigente é a de pesadelo. Por exemplo, o outrora inofensivo Chapeleiro Louco, aqui é um cientista insano, que sequestra crianças para experimentos como lobotomia e implantação de partes mecanicas. A Lebre de Maio e o Dormidongo, antigamente seus companheiros durante o chá, tornam-se vítimas de seus experimentos macabros. O País das Maravilhas encontra-se mergulhado em conflitos e guerras. A Duquesa tornou-se uma canibal. E por aí vai. American McGee’s Alice definitivamente não é jogo para crianças. E, definitivamente, trata-se de um jogo com uma arte e uma ambientação inacreditáveis.
O enredo já dá o tom do que nos espera. Após a primeira aventura de Alice no País das Maravilhas (narrada no romance clássico de Carroll), a vida da pequena mudou. Seus pais morreram no incendio, ela sobreviveu mas ficou com graves sequelas mentais em decorrencia do trauma, e desde então está internada, em estado cataonico, num hospício. Sete anos mais tarde, Alice é trazida mais uma vez para o País das Maravilhas, por obra do Coelho Branco (como sabemos, o País das Maravilhas localiza-se dentro da mente de Alice). Porém, ao chegar lá, algo está diferente. O País das Maravilhas agora é uma terra decadente, arrasada, distorcida, tiranizada pela Rainha de Copas e seus servos.
Cabe a Alice, com a ajuda do Gato de Cheshire, do Coelho Branco e de alguns poucos aliados, derrubar o reinado da Rainha de Copas, e restaurar a paz ao País das Maravilhas.
Alice é, basicamente, um jogo de ação em terceira pessoa, com toques de plataforma. Controlamos, claro, a própria Alice, que vale-se de uma série de armas para combater os diversos capangas da Rainha de Copas. Estas armas fazem alusão à infância (um jogo de Jacks com lâminas que retalham os inimigos, uma caixinha de música explosiva e lança chamas, um par de dados que invoca um demônio para combater os inimigos), ao próprio universo de Alice (o lançador de cartas de baralho, e o flamingo taco de croque) e outras são inéditas (a lança que atira gelo ou a faca).
As armas, como percebemos, fogem do óbvio. Alice está muito longe de ser um jogo de tiro. No início do jogo, a grande maioria dos combates são resolvidos no corpo a corpo. Mesmo em estágios mais avançados, os combates sempre envolvem muita proximidade entre Alice e seus inimigos, e torna-se essencial escolher a arma certa para cada situação. Os armamentos não possuem munição individual. Todos eles consomem energia de uma mesma barra. Todos os inimigos, quando derrotados, fornecem itens que recarregam tanto esta barra quanto a de energia. Então, é sempre preciso planejar bem o combate, de forma a matar primeiro os inimigos mais fracos, evitando assim ser pego “de calças curtas” sem poder disparar arma nenhuma.
Por tudo isso, o combate em Alice é bastante intenso e interessante, apesar das deficiencias da jogabilidade (que falarei mais a fundo em breve).
Alice, porém, não fica só nos combates. O jogo também é recheado de puzzles bastante criativos, que exigem lógica e observação para serem solucionados. Há também algumas pitadas de exploração, e momentos bem plataforma, onde o que faz diferença são os pulos certeiros. Infelizmente, a jogabilidade prejudica essas etapas mais voltadas para a plataforma, já que os pulos são totalmente imprecisos e bem difíceis de se controlar.
GRÁFICOS
Mesmo com seus 8 anos de idade, American McGee’s Alice é um jogo belíssimo, que não faz feio nem perante jogos mais modernos. As texturas são ótimas, os cenários e personagens muito bem trabalhados, há belos efeitos de luz e água, e; considerando-se a época do lançamento, a física é muito boa, contando com detalhes como o laço no vestido de Alice, que se movimenta de acordo com os movimentos dela. Quem tiver uma placa de vídeo mais moderna pode colocar alguns filtros, e obter um resultado ainda melhor.
SOM
As dublagens são deveras inspiradas, cada personagem possui um timbre e uma entonação que casam perfeitamente com suas demais características. O sotaque carregado de Alice por exemplo, ou o timbre macio e grave do Gato de Cheshire.
As músicas não ficam atrás, são sensacionais. Compostas pelo baterista da banda Nine Inch Nails, as canções misturam elementos como piano, percussão e caixinhas de música. O resultado é primoroso, com músicas suaves, melancólicas, sombrias e que de certa forma nos remetem a infância. Só pena as canções serem tão curtas e minimalistas, o que algumas vezes as torna repetitivas.
JOGABILIDADE
Aqui reside o calcanhar de Aquiles deste jogo. Infelizmente, a jogabilidade é muito simplista. Os combates por exemplo, são extremamente rasos, do tipo “apertar um botão e esperar”. Não há como manter a mira fixa em um inimigo, não há métodos eficazes para de desviar de ataques, não há combos, não há variedade de ataques corpo a corpo.
E os pulos são lamentáveis. Em alguns momentos, já mais próximos do final do jogo, onde os pulos precisos são indispensáveis para se avançar, o jogo chega a ficar frustrante. É muito difícil controlar adequadamente os pulos de Alice, o sistema de se agarrar automaticamente nas bordas é falho, e nunca sabemos onde vamos cair.
Claro que com o tempo é possível se acostumar. Porém, não há desculpa. a jogabilidade é fraca mesmo. Pelo menos, os comandos são poucos e fáceis.
ARTE
Se a jogabilidade é uma mancha em American McGee’s Alice, a arte é o diamante que mais brilha nele. Faltam palavras para descrever a extremamente bem sucedida transição do universo de Alice, de um local belo, colorido e pueril, para uma terra distorcida e monstruosa. Os cenários alternam localidades sombrias, outras quase bucólicas, outras ainda mais voltadas para a melancolia, outras que parecem saídas direto de um jogo de horror tal como Silent Hill. E tudo isso sem, em nenhum momento, descaracterizar o rico universo aliciano. Mesmo nos momentos mais horripilantes, lá estão o humor nonsense, as situações cômicas e absurdas; enfim: a arte desse jogo deixaria orgulhoso Lewis Carroll. É uma das direções de arte mais inspiradas já vistas num videogam em todos os tempos, apenas isso.
O enredo não fica atrás. Personagens e situações vistas no livro rendem momentos muito bem sacados. A história em si é bastante diferente do livro, até porque trata-se de uma sequencia da mesma. Mas ela é perfeitamente compatível com o universo criado por Carroll, e nós chegamos mesmo a pensar que foi ele próprio quem a escreveu.
DIVERSÃO
Alice é o tipo de jogo que te deixará grudado na tela. A despeito de sua jogabilidade meia boca, a variedade de desafios, armas e ambientes, e o desejo de acompanhar o denserolar do enredo nos mantém colados ao monitor até o jogo acabar. Cito ainda como ponto forte o desafio equlibrado e o combate que se torna melhor conforme adquirimos novas armas.
Como ponto fraco fica a jogabilidade, que torna certos desafios muito frustantes.
CONCLUSÃO
American McGee’s Alice é um dos melhores jogos já feitos. Ponto. A despeito de suas imprefeições, algumas até bastante graves, é um jogo que simplesmente não deve passar em branco por ninguém. Todos devem joga-lo, nem que seja para entender como a direção de arte em entretenimento eletronico faz toda a diferença, e deveria ser levada muito mais a sério.
Obs: Game compativel com o Windows XP / Vista / W7.
Para minimizar o game pressione ALT+ESC.
Tradução→Equipe Game Vício